sábado, 26 de maio de 2012

SLINGS NO SÉCULO XXI

Inicialmente vamos falar sobre a importância de carregar nossos filhotes. Gosto de me referir aos nossos bebês como filhotes, crias, pois nós seres humanos temos a tendência de nos achar superiores a outras espécies do reino animal. No entanto, mais do que nunca, neste momento da criação, da gestação, do parto, nós mulheres observamos que somos tão mamíferas como qualquer outra espécie. Que queremos aninha-los, segura-los, amamenta-los, lambe-los, protege-los como qualquer outra mamãe do reino animal. Lembro-me de um pouco antes do meu parto, estar deitada na cama, de lado, com os braços cruzados um em cima do outro, respirando, apenas esperando o momento de parir. Senti-me a própria natureza e não apenas fazendo parte dela.
Desta mesma forma, nossos instintos maternos fluem como um rio fervoroso no momento em que temos nossa cria nos braços. Subitamente, sabemos o que fazer. Eles, indefesos, precisam de nós, tanto quanto nós precisamos deles para nossa saúde física, psíquica e emocional, para que o leite e a energia do amor fluam, como as águas do rio fervoroso em direção à fonte, ao oceano. Quando algo neste processo é cortado, o rio fica com entulhos e já não segue o mesmo fluxo, a energia é desviada e há diversas interferências na saúde desta díade mãe-bebê.
Por este motivo, diversos autores afirmam que é essencial carregarmos nossos bebês em nossos braços, embala-los, acaricia-los, toca-los, amamenta-los, massageá-los, olhar em seus olhinhos para que possam se sentir ancorados e reconhecidos. É essencial que o bebê esteja em contato corporal com a mãe a maior parte do tempo, para que possa sentir a segurança, o calor, o amor e o aconchego. Estando presente em seu desenvolvimento não apenas o alimento físico, assim como alimentos para a sua alma. Segundo Frédérick Leboyer, pediatra francês, quando as crianças são privadas de tudo isso e do cheiro, do calor e da voz que tão bem conhecem, ainda que estejam fartas de leite, se deixam morrer de fome. Tomemos cuidado com crianças extremamente quietas no berço que não solicitam a presença da mãe, estas podem ter desistido e podem estar sofrendo a dor da separação e do desamparo que refletirão diretamente em seu desenvolvimento.
No entanto, sabemos que vivemos no século XXI, onde o tempo corre, onde não temos mais tempo para se dedicar integralmente ao nosso papel de mãe, onde as famílias estão diversificadas, onde as mulheres estão imersas no mercado de trabalho, onde o tempo corre mais que nunca. Como podemos proporcionar a nós e a nossos filhos uma saúde emocional, psíquica e física em tempos de depressão pós-parto (em mães e bebês), hiperatividade infantil, déficit de atenção entre outras psicopatologias com uma frequência como nunca se observou antes? Não quero com isso, dizer que a única causa destas psicopatologias é a separação muito precoce mãe-bebê e sim que a ansiedade desta separação pode trazer sérias consequências para a saúde psíquica e emocional da criança.
Por estes motivos, mais do que nunca levanto a bandeira dos Slings, carregadores de bebês. Que são formas de carregar o bebê através de panos com determinadas amarrações e que existem há muitos séculos, em todos os continentes. Na Europa a popularização do carrinho entre as famílias ricas no final do século XIX, ficou entrelaçada com status social e consequentemente utilizar carrinhos era apenas para os que podiam financeiramente. Esta cultura chegou a nosso país e assim é até hoje. Não esqueçamos que as mães índias, sempre utilizaram as tipoias para carregar seus bebês, infelizmente este hábito não se difundiu entre nós como o banho diário, hábito herdado de nossos índios. Observamos atualmente, como parte da cultura, a utilização de carregadores de bebês em diversos países como Japão, China, África, México, entre outros (em todos os continentes).
Existem diversos modelos de Slings (carregadores de bebês), no entanto vamos falar do modelo Wrap que significa embrulhar. Este modelo foi criado em 1972, na Europa, quando a alemã Érica Hoffmann, mãe de gêmeos, resgatou o Sling e inventou as amarrações que conhecemos hoje. Este modelo caracteriza-se por um pano de aproximadamente 5m de comprimento por 40cm de largura que possui formas específicas para se carregar o bebê em posição de amamentação, em pé (como na posição em que o colocamos para arrotar), de lado nos quadris (quando já podem segurar a cabeça) e nas costas (posição que muitos pais gostam de carrega-los). Lembremos que o Sling pode e deve ser utilizado pela mãe e pelo pai que aos poucos vai se introduzindo na relação mãe-bebê. É essencial que este vínculo seja estabelecido através do contato corporal com o pai, através do seu olhar, cheiro e voz. Este modelo de carregador de bebê, diferente de outros, pode ser utilizado desde o nascimento até aproximadamente quatro anos (20kg). Ainda é importante salientar, que diferente das “mochilinhas” encontradas no mercado e outros modelos, o modelo Wrap traz uma ergonomia mais adequada à mãe/pai que fica com a coluna sustentada e ao bebê que fica com as pernas levantadas acima do quadril não prejudicando a sua formação óssea, além de ser confortável para ambos. É considerado uma extensão do útero materno proporcionando o limite que o bebê sentia no útero, permitindo que o bebê sinta o calor da mãe/pai, o cheiro, ouça a sua voz, sinta o ritmo da respiração, ouça os batimentos cardíacos trazendo conforto, tranquilidade e fortalecendo o vínculo afetivo essencial para o desenvolvimento sadio. Além disso permite que o bebê tenha visão mais ampliada. De acordo com Weber, L. (2007) o bebê gosta de ser levado para passear, para ver outras pessoas e outros estímulos e cores do mundo. Gostam de ser pegos no colo e vêm prontos para isso, pois até enxergam melhor a uma distância de 20cm, exatamente a distância do colo de alguém e do seu rosto.
É fácil e prático de usar, dispensa o carrinho de bebê no enxoval, pode facilmente ser levado dentro da bolsa da mãe quando há necessidade e com certeza o custo é extremamente mais acessível. Não tem necessidade de estradas adequadas, pavimentadas, pode ser usado em passeios, trilhas pela natureza, caminhadas na praia,  proporcionando prazer para a mãe/pai e ao bebê/criança.  Facilmente podemos ir ao supermercado, leva-los na creche, podem mamar com privacidade independente de onde estejamos, podem dormir com tranquilidade sentindo o calor do corpo da mãe/pai. Podemos leva-los ao trabalho (dependendo do trabalho) ou mesmo fazer diversas atividades em casa. Ou seja, nos dias de hoje, proporciona diversas possibilidades que quando utilizamos o carrinho, chiqueirinho, sabemos que ou ficamos apenas com eles no colo sem fazer mais nenhuma atividade ou os deixamos chorando separados de nós.
Muitas mães/pais podem estar pensando neste momento: Será que desta forma não vou mimar meu filho (a)? Será que não vão ficar mal acostumados? Temos estes conceitos muito enraizados em nossa cultura. No entanto, estamos vivendo numa sociedade doente, violenta e egoísta. Será que estas práticas de “não mimar” nossos filhos com amor e atenção são realmente eficientes? Será que realmente surtem o efeito que desejamos? É algo para refletirmos...
Penso que nosso mundo precisa de mais amor e que este amor deve iniciar quando ainda são fetos e devem continuar através de gestos amorosos, muito contato corporal, de calor, afeto e amor assim que saem de nosso útero. Através de um parto mais humanizado, respeitoso e caloroso, na forma com que os recebemos, com que olhamos em seus olhinhos e que já se estabelece o laço forte do amor.
Realmente são crianças mais felizes, que choram muito pouco. Segundo Montagu A. (1988), as crianças só ficam desesperadas quando são separadas de suas mães. E quando suas necessidades estão satisfeitas podem deleitar na plenitude do amor, da segurança e com certeza se tornar adultos abertos para dar e receber este amor. Precisamos destes seres humanos no planeta mais do que nunca!
Lethícia Feuser

INDICAÇÕES DA OMS (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE) NO ATENDIMENTO AO PARTO NORMAL

Via site: partodoprincipio.com.br A) Condutas que são claramente úteis e que deveriam ser encorajadas: 1. Plano individual ...